Bluebird

por Charles Bukowski

O célebre poema de Bukowski

O Pássaro Azul, um dos poemas mais conhecidos de Bukowski, é uma profunda meditação sobre a faceta humana muito familiar a todos os leitores: como constantemente sufocamos nossos impulsos sob uma versão externa meticulosamente construída.

Originalmente chamado “Bluebird”, o poema foi publicado em 1922 como parte de sua antologia The Last Night of the Earth Poems.

A poesia de Bukowski revela também uma faceta escondida sob as bebedeiras, vida boemia e profana, vocabulários esdrúxulos e cinzeiros lotados de bitucas de cigarro de seu alter ego Henry Chinaski.

São ambos os lados de uma mesma face que se completam e fizeram de Bukowski “o melhor poeta de América”, como era considerado pelo filósofo Jean Paul-Sartre.

O Pássaro Azul

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?

- em Textos autobiográficos, de Charles Bukowski, páginas 478/9.
Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, L&PM Editores, 2009.

O Pássaro Azul: poema de Bukowski em animação

A bela animação adapta o poema de Bukowski e foi criada por Monika Umba, estudante de Cambrigde School of Art. Com uma perfeição visual muito bem desenvolvida pela artista, a trilha de poucas notas dá o toque melancólico que soa na leitura.

Os personagens possuem um corpo meio rígido, parecem feitos de recortes de jornal. Por isso, tem algo de cotidiano neles. O pássaro e o azul, os grandes protagonistas da animação, dão o tom aos eventos e brilham pela imagem, trazendo à vida a magia do poema.

Introdução por Raquel Rapini. Sobre a animação por Marina Franconeti. Fonte do artigo.